Review | Casa de Las Flores — 2 Temporada
Série perde o fôlego, mas mantém essência
La Casa de Las Flores foi uma das grandes revelações de 2018. Série original da Netflix México, apresenta uma sequência de conflitos, erros e confusões de uma família “quase perfeita”, dizeres da narradora e também personagem Roberta. Levados na primeira temporada pelo plot da morte dela, uma amante, inúmeros segredos e a mão pesada em alguns exageros típicos de uma novela mexicana, a série cativou espectadores e teve sua sobrevida.
Agora, com a estreia da segunda temporada, mais curta, é possível checar se tudo que foi construído no primeiro ano se mantém. E infelizmente logo de cara somos impactados com a notícia da morte de Virgínia De La Mora, a matriarca dessa complexa família e um dos eixos desse drama. O fato desestabilizou não só os integrantes dessa rede de conflitos, como o efeito perpassa das narrativas a qualidade do show.
Ícone da TV mexicana, a atriz Verônica Castro, não conseguiu participar das novas gravações por conflitos de agenda. Houve um pequeno desentendimento quanto ao contrato e a possível continuidade da série, mas a mesma confirma que é muito grata pelo convite inicial. Houve uma polêmica envolvendo o criador Caco Manolo chegando a rolarem farpas na troca de postagens pelas redes sociais de ambos, o que alimenta outras teorias sobre a saída da atriz.
Continuidades
Todo absurdo apresentado na primeira temporada ganha novos moldes agora. Há um flerte maior com a fantasia, por exemplo. No início da produção, Micaela (Alexa de Landa) apresenta truques que vão muito além de números baratos de mágica, assim como o adentramento de uma misteriosa seita no enredo, algo que dá um novo tom azul e pitoresco à série. Ponto forte do retorno de La Casa de Las Flores é a inserção certeira de novos personagens, alguns irritantes e outros que ganham um espaço significativo ao longo dos episódios, é convincente o modo e como são incluídos.
O que incomoda é que muitos arcos da trama retornaram de forma um tanto repetitiva, sem grandes novidades ou algo que nos envolva, principalmente quando se refere ao trio de protagonistas, os filhos De La Mora. É sentida a falta de um mistério que conduza e amarre a história como aconteceu antes.
A primeira temporada foi criada a partir de um quebra-cabeças elaborado cheio de subtramas que se entrelaçaram, e assim como os De La Mora, se engalfinharam até um desfecho tragicômico. É aparente um desejo de fazer o mesmo dessa vez, mas percebível um retalho de ideias que nem sempre são convincentes no decorrer da história.
Júlian (Dario Yazbek Bernal) continua irresponsável, mesmo com a descoberta de uma herdeira. Paulina (Cecilia Suárez), perdeu o eixo no luto pela mãe e é movida por vingança e pelo ensejo de recuperar a floricultura. Elena (Aislinn Derbez), por sua vez, tem um novo caminho em seus relacionamentos na busca por redenção e também em um novo tipo de entrega aos seus próprios desejos. Além disso, as Casas de Las Flores, tanto a floricultura como o cabaré, perdem espaço na trama para dar voz aos impactos do final da primeira temporada.
Inevitável não fazer paralelos da trajetória de Micaela com a Pequena Miss Sunshine. Mesmo que existam abismos entre ambas as personagens, ainda assim saem de um mesmo ponto: do desequilíbrio familiar e da pureza de uma criança. A filha bastarda ganha muito mais espaço agora e apresenta as consequências de ser criada por uma família tão conturbada.
Apesar do roteiro se mostrar confuso em alguns momentos, assistir a já amada Paulina, vivida por Cecilia Suárez, é um deleite. Ela se torna o fio condutor dos acontecimentos mais uma vez com a certeza de que a interlocução atriz e personagem é um dos maiores trunfos do programa.
Uma das dificuldades do ano é encontrar o seu próprio ritmo também. Apesar de algumas decisões da edição como a guinada musical surpresa (pode conferir abaixo) em uma cena do primeiro episódio, os roteiristas e diretores parecem não se decidir se a série deve se levar a sério ou se jogar em suas próprias loucuras, algo que fica bem mais claro no ano anterior. Sabendo que a série lida com assuntos importantes para a vida moderna, pincela questões de sexualidade, gênero e relacionamentos de maneira natural. Apesar de um confuso andamento, é entendível que haja um conflito entre a seriedade e o exagero caricato de algumas situações.
Outros pontos que devem ser destacados são a fotografia, trilha sonora e montagem dos episódios, continuam impecáveis. Pontos esses que podem ser percebidos ao apreciar os espetáculos das garotas no cabaré, nos ótimos trabalhos com a luz em cenas diurnas e no repertório musical democrático e majoritariamente mexicano da temporada.
Por fim, o retorno de Casa de Las Flores tem seu prestígio. A falta de cuidado ao amarrar os conflitos dessa família ou mesmo contar essas novas histórias de forma mais instigante não atrapalha o universo já estabelecido pela série. Mesmo com alguns problemas de desenvolvimento, em seus últimos episódios temos aquela excitação da expectativa de um clímax cheio de reviravoltas e algumas surpresas. Falta descobrir se em sua terceira temporada, já confirmada, a família De La Mora enfim desfrutará de alguma das lições aprendidas no ano, de que é preciso ouvir os que amamos e que deixar ir não significa necessariamente o fim.
Eu sou Diego Souza Carlos, um jornalista cultural apaixonado por boas histórias, música e kare.
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